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Arquivo do mês: maio 2010

Promessa

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As razões para aquele olhar se mostrar tão distante ninguém conhecia, era um enigma que ela nunca permitiu a ninguém decifrar. E então ela ficava sentada numa velha poltrona de couro marrom, ouvindo uma música baixa e tranquila enquanto lia um livro velho com as páginas com um cheiro amadeirado que só os livros velhos possuem. As vezes levantava seu olhar em direção à porta ou ao corredor. Quando olhava o corredor os seus movimentos eram de mera atenção ao que está se passando ao redor, mas completamente desinteressado em realmente saber. No entanto, quando ela olhava o corredor, uma expressão diferente lhe surgia na face e ela demorava mais o olhar, fixo e longinquo, como que avista-se as nuances de uma outra galáxia.
Se o telefone tocasse ela se levanta lentamente e caminhava até ele, nunca havia gostado de telefone, e se não fosse por seus filhos deixaria de atender as chamadas. Por anos só recebe ligações das mesmas pessoas, mensalmente seu irmão lhe liga para conversar um pouco, e seus filhos ligam quase todos os dias, para verificar como ela está e se precisa de algo. Essas três pessoas, juntamente com suas lembranças, seus livros e seus escritos, eram tudo o que ela tinha na vida, tudo o que fazia ela ainda encontrar motivos para viver.
Nas noites de céu estrelado ela ainda agradece as estrelas por mantê-la calma, mas já não diz que elas trazem esperança, pois já deixou de tê-la em algum ponto do passado. Pede as estrelas que não a deixe só e que traga lembranças de quem está longe…
Toca uma música conhecida, mais antiga do que ela mesma, ela sorri, levanta o olhar do seu livro, olha para o corredor e lembra que um promessa foi cumprida. Seus olhos se enchem de lágrimas quando se deparam com essas lembranças, as mãos enrugadas secam as lágrimas que dessem pelo rosto. Lembranças… foram apenas elas que restaram. Mas aquela promessa foi cumprida.

E vento me diz
que levará as dores,
mas jamais as lembranças

Pôr-do-sol (Outono)

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O sol se punha por trás das montanhas, e ela se perdia em pensamentos enquanto admirava a luz do crepúsculo. Passava a maioria das tardes sentada num antigo balanço de madeira, admirando aquela luz tão bela que só o outono conseguia proporcionar. Todo o céu se tingia de um tom único, impossível de se adquirir através de algum pigmento. Ela sabia que se alguém desejasse pintar aquele belo pôr-do-sol de outono nunca conseguiria colocar na tela aquela composição com toda a leveza que realmente possuía.
Desejava que a vida fosse toda feita de tardes de como aquela, com um sol suave que aquecia sua pele e secava seus cabelos. Desejava sempre poder sentir o arrepio causado por aquele vento leve que batia em sua pele. A vida seria perfeita assim.
Nada mais era necessário quando ela via o céu se alegrando ao pôr-do-sol. Não havia mais dores, nem nada que pudesse magoá-la. Tudo o que existia era paz e frescor.
Se a vida fosse toda tardes de outono, ela seria apenas ela, e os sonhos seriam mais reais, mesmo que ela passasse toda a vida sentada naquele balanço de madeira. Ainda assim, a vida seria mais completa.

Mais um outono pra acalmar a alma, amenizar as dores e renovar os sonhos. Cada pôr-do-sol é como uma canção, como poesia…