As razões para aquele olhar se mostrar tão distante ninguém conhecia, era um enigma que ela nunca permitiu a ninguém decifrar. E então ela ficava sentada numa velha poltrona de couro marrom, ouvindo uma música baixa e tranquila enquanto lia um livro velho com as páginas com um cheiro amadeirado que só os livros velhos possuem. As vezes levantava seu olhar em direção à porta ou ao corredor. Quando olhava o corredor os seus movimentos eram de mera atenção ao que está se passando ao redor, mas completamente desinteressado em realmente saber. No entanto, quando ela olhava o corredor, uma expressão diferente lhe surgia na face e ela demorava mais o olhar, fixo e longinquo, como que avista-se as nuances de uma outra galáxia.
Se o telefone tocasse ela se levanta lentamente e caminhava até ele, nunca havia gostado de telefone, e se não fosse por seus filhos deixaria de atender as chamadas. Por anos só recebe ligações das mesmas pessoas, mensalmente seu irmão lhe liga para conversar um pouco, e seus filhos ligam quase todos os dias, para verificar como ela está e se precisa de algo. Essas três pessoas, juntamente com suas lembranças, seus livros e seus escritos, eram tudo o que ela tinha na vida, tudo o que fazia ela ainda encontrar motivos para viver.
Nas noites de céu estrelado ela ainda agradece as estrelas por mantê-la calma, mas já não diz que elas trazem esperança, pois já deixou de tê-la em algum ponto do passado. Pede as estrelas que não a deixe só e que traga lembranças de quem está longe…
Toca uma música conhecida, mais antiga do que ela mesma, ela sorri, levanta o olhar do seu livro, olha para o corredor e lembra que um promessa foi cumprida. Seus olhos se enchem de lágrimas quando se deparam com essas lembranças, as mãos enrugadas secam as lágrimas que dessem pelo rosto. Lembranças… foram apenas elas que restaram. Mas aquela promessa foi cumprida.
E vento me diz
que levará as dores,
mas jamais as lembranças